8.12.14

Disseste-me um dia que o amor
Mais íntegro
Nasce da fricção dos pólos,
Dos átomos que testemunham
Misericórdia e tentação
Entre anjos e
Bestas.

Tocaste-me o corpo
Até ti, puro,
E disseste-me,
Quase em segredo,
Que só aos filhos de deus
É permitido carregar uma pele
Tão suave quanto
Plumas
Num mundo nefasto como
Este em que nascemos.

Chamaste-me de anjo.
Discordei em segredo.
Se acreditei algum dia no divino,
Foi só porque o divino me
Eras tu.
Como poderias tu ser a besta neste
Amor sem medida,
Quando tudo em ti é 
Clemência?

Chamei-te de anjo.
E ignorei que também
Lúcifer
Fora filho de deus.
O favorito.
A maior das bestas
Nasceu no seio do
Paraíso,
Alimentada por amor celestial
E misericórdia aos seus,
Que não saciou a sede
De pecado.

Bestas não são senão anjos
Caídos,
Com mãos de pedra
Que destroem tudo aquilo
Em que tocam.

Chamaste-me de anjo.
E doeu-me ser a pureza
Neste delito a que chamámos
Amor,
Quando me deixaste à espera
às portas do Paraíso.
Nem todos os filhos de deus
Nasceram para ser 
Amados.

Cortei as asas. 
Não serei mais anjo
Num outro amor.

Ofereceste-me o inferno
Numa caixa de música.
Cessaram as harpas e
As palavras de ternura.
O meu mundo está em chamas.

Arruinaste-me. 
Arruinarei outros agora.

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