13.11.19

22.22

Voltar a casa é, tantas vezes, entender de fora um sítio no qual já não cabemos. É rever dores de crescimento nas manchas que ficaram no papel de parede, que um dia nos pareceu o mais bonito (e o mais dorido). É olhar ao espelho, coberto de pó, e contá-las. Uma, duas. Duas rugas de expressão que não existiam cá. As minhas mãos são as mesmas, mas estão diferentes. Não sei apontar em quê. Os meus versos já não doem - será que ainda sou poeta? O meu coração está mais maciço e, por oposição, mais gracioso - talvez porque o moldei.

Disseram-me ontem, com a ternura de quem só a alma me conhece, que sou dessas mulheres que "trazem o mar nos olhos". Cabe cada vez mais em mim, essa imensidão. Sou mulher de sal.

Os dias passam, largos, desenfreados. Somente isso continua igual. 

11.3.16

A química do acaso,
A física dos números primos,
O reflexo de às vezes.

Tudo em mim é vontades
E afecto guardado na algibeira
Com medo de quebrar ao vento.

Fosses caminhos para me perder
E reencontrar nas esquinas
Das cicatrizes que vestes,
Das histórias que não contas.

Mapear-te os sinais.
O todo de ti, assim,
Devagar e aos poucos.

O acaso é tão bonito
Como os naipes dos teus lábios,
As avenidas do teu corpo.

Durmo ainda com a saudade à cabeceira,
porque tenho o coração ocupado.
E no entretanto, querer-te assim,
Como se de pássaros me fosse feito o peito,
E de ternura às mãos cheias, os dias.

Se de amanhãs se faz um incêndio de querer,
Guardo-te os meus, sem que mos peças.
Ardem hectares de mim no cosmos
Que são os teus olhos,
Acordo contigo à cabeceira de nós
E quero-te tanto.

O que de nós sobra quando nos damos
Vive aqui, no silêncio deste quarto
Em que já não estamos,
E o meu nome não é aquilo que me chamam,
Mas aquilo que carregas na palma das mãos
Em noites de março.

O amor, às vezes, tem vírgulas.
Outras vezes, entre vírgulas,
Se encontra amor.

(parabéns, coração)

1.11.15

Há nas minhas noites uma porta entreaberta que tem o teu nome. Chega-me ao corpo o vento frio de (mais) um novembro só. Penso que não quero mais a porta aberta. Mas se a fecho, por onde entrará a luz quando o sol nascer?