22.22
Voltar a casa é, tantas vezes, entender de fora um sítio no qual já não cabemos. É rever dores de crescimento nas manchas que ficaram no papel de parede, que um dia nos pareceu o mais bonito (e o mais dorido). É olhar ao espelho, coberto de pó, e contá-las. Uma, duas. Duas rugas de expressão que não existiam cá. As minhas mãos são as mesmas, mas estão diferentes. Não sei apontar em quê. Os meus versos já não doem - será que ainda sou poeta? O meu coração está mais maciço e, por oposição, mais gracioso - talvez porque o moldei.
Disseram-me ontem, com a ternura de quem só a alma me conhece, que sou dessas mulheres que "trazem o mar nos olhos". Cabe cada vez mais em mim, essa imensidão. Sou mulher de sal.
Os dias passam, largos, desenfreados. Somente isso continua igual.
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