Um bocadinho sobre mim:
O nome é Jessica. Jessica Camacho. Nunca gostei do meu nome.
Tenho 21 anos. 22 em Novembro. Sou designer gráfica, segundo o diploma. No campo da vida sou mais um nome na lista de desempregados. Aos fins de semana sou escritora - escrevo poesia em prosa. Nasci e cresci sempre numa cidade na qual não caibo. É em tudo, pequena demais para mim. Não gosto de conduzir. Adoro pérolas. E mãos. Pinto sempre as unhas de preto. Gosto sempre mais de tudo em preto. Gosto de comprar cds. E livros. Fiz teatro, em tempos. E sofro da síndrome do coração partido.
É engraçado que lhe tenham dado um nome científico, a isto do coração partido. Sempre se morreu de amor, agora é só oficial. Temos uma descrição detalhada e lista de sintomas que já conhecíamos. A cura, essa, ninguém nos dá.
Eu sofro da síndrome do coração partido porque encontrei alguém que me mexeu com as cordinhas do coração. E fez música. Os ossos tornaram-se-me gelatina ao toque dele. E quando ele sorriu, acreditei que depois de conhecê-lo, não teria que conhecer mais ninguém a quem dar o coração.
Eu gosto do Mickael como o Mickael gosta da vida - de coração cheio. Tão cheio, que no meu coração não há espaço para muito mais. Tão cheio que no dele, não há espaço para mim. Nunca o disse cá em casa, mas todos o sabem de alguma forma. Não sei o que se faz com o amor que as pessoas não querem. Sei que o costumo transformar em marés de palavras, correntes metafóricas nas quais me afogo e me esqueço de quem sou. Este blog criei-o eu há quatro anos atrás e fiz dele a foz em que desaguo essas correntes que me arrebatam o coração. Mas uma corrente como o Mickael vai encher-me os pulmões de água se me perder por cá. Vai arrastar-me para o fundo. O Diário de Bordo será sempre para mim como uma casa de infância - às vezes ausento-me, mas quando volto, sou sempre bem recebida. Conheço os cantos à casa. O cheiro das paredes. Estou em casa e nada mudou. O Diário de Bordo sou eu, nua e crua, como muito poucos me sabem. Mas eu não confio em mim aqui para cuidar do meu coração partido - vou parti-lo um bocadinho mais todos os dias, a cada palavra que escreva. Porque as minhas palavras serão dele, para ele e por ele durante uns tempos. Talvez me ausente. Há coisas na minha vida que já não me são confortáveis. Está na altura de trocar o papel de parede. Por cá passarei para vos ir lendo. Quem sabe, até volte depressa. Não sei quanto tempo consigo estar longe de casa. Mas neste momento as paredes caem aos poucos e eu sufoco aqui. Vou procurar novos sonhos. Sonhos maiores, melhores.
Volto já. Volto sempre.
Ao sempre um bocadinho meu Mickael: toma conta de ti. Dorme horas suficientes. Tenta deixar de fumar. Conduz com cuidado - a sério. A melhor maneira de nos sentirmos vivos é permanecer vivos. Começa a dar uso ao despertador. Vê "tangled", nunca viste e eu prometi que te fazia ver esse filme. Cuida de quem cuida de ti. Não deixes as pessoas à espera tanto tempo. Presta atenção ao telemóvel, e usa-o com mais frequência. Usa protector solar sempre que fores fazer dias como nadador salvador. Espero que nunca percas essa tua inconsciência de ser, mas que o tempo te traga a consciência dos teus actos. Aplica-te agora em Setembro. E lembra-te de como é gostar. Aprende a deixar que gostem de ti. E obrigada pelas flores e pelas constelações. Pelas noites que dormiste menos bem porque eu te deixei o braço dormente e não me quiseste acordar. Pelas fracções de amor. Por tudo. O que levas de mim, fica-te bem. Não quereria nada de volta.
Obrigada por me deixares de lágrimas nos olhos, a mim, que sou uma pedra sem retorno, mas que retorno muitas vezes porque ainda sinto. E obrigada, por me mostrares que aindahá coisas que sinto. Que me perfuram. Obrigada por seres mais uma Jéssica que não cabe no mundo e que não pertence a um único lugar, obrigada por me fazeres ouvir «S de Jéssica» dos Linda Martini de novo. Obrigada por me fazeres ter a sensação nobre de te conhecer como conheço as minhas mãos, e eu gosto tanto de mãos que sejam como as minhas...
ResponderEliminarA mim e ao meu coração, digo o que tu dizes aqui. Talvez nunca haja cura para quem já nasceu morrendo... O amor mata. Retirei dos médicos um dia. E dos cigarros também.
No fim do dia, debaixo da lua... sei que aquele que amo, em sonhos, ou pesadelos, quem amo até o mundo deixar de ser mundo para os outros, depois de o ter sido para mim, terá sempre a parte mais bonita do ser estranho e estúpido que sou. E juro, também não quereria nada de volta. Nada de volta.
Talvez pela doçura que sempre demonstraste nas tuas palavras, julgava-te mais nova!
ResponderEliminarLamento muito saber o mal pelo qual estás a passar. Gostava imenso de te conseguir ajudar, sei lá! Conseguir que o vento soprasse em ti alguma mudança...
gosto sempre destes "sobre mim", sobre os mins deste pequeno mundo, cheio de casas, quatro paredes, acessíveis por uma janela de letras. gostei muito de saber sobre ti. há corações que se afeiçoam às rachadelas, como nos afeiçoamos às rasuras das paredes das nossas casas. nos rasgos ainda vemos as casas e eles o amor. há de melhorar. os corações também bebem chá cura maleitas às terças feiras.
ResponderEliminarObrigada pê. Tenho cá para mim que o meu coração é desses que se afeiçoa às rachas dos outros corações. Acho-me sempre capaz de as preencher, e acabo com um coração rachado entre mãos também.
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