24.1.14

21.59

Quero tanto que deixes de existir em mim. Nunca te desejaria mal algum, mas dava-me jeito que me morresses na memória. Não consigo ignorar que és ainda o propulsor das minhas palavras. Procuro-te em figuras de estilo porque já não te encontro na cama. Fomos trágicos. Deploráveis. Destruímos-nos da maneira mais humana possível - com paixão. E essa paixão que partilhámos foi única. Nunca fomos subtis. Não soubemos ser graciosos, não era essa a nossa matéria. Fomos feitos de ciúme e desejo e de uma paixão ardente que se extinguiu num ápice e nos arrastou com ela. Fomos possessivos, desequilibrados, errados e tóxicos. Arranho a minha pele na tentativa de te encontrar: quero que deixes de me habitar o corpo. Não te encontro mas sei que ainda cá estás. Dispo-me da pele em que tocaste e respiro outra vez. Há um silêncio negro que se instala - não te oiço. Mas queria. Queria, não queria? 
Magoa-me escrever-te: não é um luto justo, saudável. Quero parar, mas tomas-me sempre as palavras. Não te sei perdoar e não te consigo enterrar, este é o meu castigo. E o teu, qual é? Foste um turista de amor: vieste de passagem. Ficaste só para a estação quente, aproveitaste o que havia de melhor em mim e partiste. Procuras calor noutros corpos, noutras camas. Quem foi que te disse que se podiam tratar as mulheres como bonecas de porcelana?

Quando caem também quebram.



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1 comentário:

  1. olha, adorei, adorei mesmo todos os textos que li até aqui (os olhos já me pesam, não consigo ler mais com a devida atenção)!
    Obrigado pelo comentário que me deixaste! Vou começar a seguir-te :)

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