17.7.14

01.57

Sempre me disseram que tenho mãos de pianista por serem esguias e compridas. Há uma certa delicadeza e perícia nas mãos de um pianista, e uma certa virilidade, por oposição. As minhas mãos são grandes. Tenho mãos de pianista e gosto disso. Gosto das minhas mãos e das tuas, mas gosto principalmente das minhas mãos nas tuas e do que acontece quando se procuram. As minhas mãos são melhores quando estão com as tuas: cabem nelas os dias de Agosto e as noites de Fevereiro. Quando as nossas mãos se compilam, olho para as minhas mãos grandes e parecem-me pequenas e frágeis. Estas mãos agora pequenas, carregam esperanças, sonhos e mundos que te deixo à porta todas as noites à mesma hora. As minhas mãos já não são grandes. Não comparadas com as tuas. As minhas mãos são pequenas e frias, e suam quando te vejo, tremem quando me tocas. Tremem-se-me as mãos e os joelhos, abala-se-me o mundo. Mas os sonhos, seguro-os em mim, para tos oferecer mais tarde ao cair da noite. As minhas mãos são pequenas e não aguentam o peso do meu corpo, mas guardam o meu amor por ti. É tão grande esse amor que mais nada cabe nas minhas mãos, outrora grandes. Sempre me disseram que tenho mãos de pianista. Gosto disso. Nunca aprendi a tocar piano, mas aprendi a tocar-te as cordas do coração e a escrever música na tua pele. Componho melodias bonitas quando te toco o corpo. As minhas mãos já não são grandes, grande é o amor que nelas carrego. As minhas mãos são pequenas. Mas o teu coração coube nelas - servem-me bem.


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4 comentários:

  1. talvez as pessoas boas tenham mãos grandes. e talvez eu seja uma boa pessoa porque as tenho. o que é certo é que quem guarda um amor desses em duas mãos que podem mudar o mundo, pode tudo.

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  2. Gostei tanto da narrativa, da descrição das coisas, das mãos.
    Muito bom mesmo.

    Um beijinho e tem um óptimo dia amanhã :)

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  3. Não queiras o fado que aquela Alice canta.

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