Sempre pertenci às cores e às letras. E mais tarde, ao amor que delas surgiu quando o teu amor me morreu nas mãos. Aos nove anos recebi um presente daqueles que nos definem: uma caixa de quarenta e oito lápis de cor. Desde então que o lápis número 153 passou a ser a minha cor favorita - turquesa cobalto. Cinco anos mais tarde comecei a estudar arte e cruzei-me contigo, na galeria do acaso. Tu sempre foste um mistério: alguém que estudava uma ciência exacta e conduzia um estilo de vida oposto, e pareceu-me que esse paradoxo com pulmões que eras, levava a vida ao centro e me mantinha os demónios entretidos. Quando discutimos a temperatura das cores, disseste-me que o azul era a cor mais quente e justificaste-o com fotões e quantidades de energia, e apesar da arte me ensinar que o azul era uma cor fria, eu concordei contigo. O azul não podia ser senão uma cor quente porque eu sempre gostei de calor e de azul, e os teus olhos eram turquesa cobalto e tu mantinhas-me os dias quentes em pleno fevereiro. A arte não é exacta e por vezes, pareceu-me a mim, pode ser definida simplesmente como a ciência resumida a amor e cores bonitas. Só mais tarde entendi que o amor, como a arte, é subjectivo e que duas pessoas podem sentir a mesma obra de arte de formas completamente distintas. Os dias que contigo vivi fizeram-me crer que o azul era uma cor quente, mas os que vivi sem ti levaram-me a concluir que, na verdade, é uma cor fria. E percebi então que para mim, a exactidão está nas artes. Hoje sei que apesar de racional, sou subjectividade até aos ossos. Gosto de fórmulas e de regras porque tenho necessidade de entender o mundo, mas o amor, sinto-o à bruta.
Aprendi que sou filha de um estranho matrimónio entre matérias que se anulam mutuamente. E que, embora o turquesa cobalto me fascine, é o castanho que me mantém o corpo quente.
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Image from Tumblr |
Foi desde a primeira linha que fiquei vidrado no teu post, e a referência à caixa com os lápis de cor foi, sem dúvida, brilhante.
ResponderEliminarUm Beijinho :)
digam o que disserem, o castanho também me faz nascer.
ResponderEliminarGostei tanto deste texto. Tão expressivo, que arte esta que aqui compuseste. :P
ResponderEliminarObrigado pelas palavras de bom gosto. :)
Beijinho*
Texto maravilhoso.
ResponderEliminarDizem que até mesmo a eternidade tem um fim. Mérito teu :)
ResponderEliminarObrigada.
ResponderEliminarTambém as tuas palavras estão carregadas duma fórmula que só pode ter a partícula divina.