Sou terrível com inícios. Queria pedir-te desculpa pelo Inverno das minhas palavras. Sou-te fria porque me roubaste o calor do corpo quando nos perdemos em jogos e ironias. Não me custa ver-te desistir de tentar. Eu desisti há muito tempo. Não te odeio e não te amo. Só não te suporto. Não te sei perdoar. Desculpa-me por isso também. Fizeste de mim alguém capaz de dormir com o rancor debaixo da almofada. Sou terrível com inícios, mas pior com fins.
É ridículo, tudo isto. Escolhi não te dar satisfações sobre a forma como decido reparar os danos que em mim causaste, mas continuo a não saber lidar contigo. Escrever-te fez parte do processo de cicatrização, suponho. Escondi-me nos escombros do que sobrou de nós. Alimentei-me dos teus olhares esporádicos, da atenção mínima que me davas entre intervalos de aventuras e tentei escrever sobre amor, tentei eternizar o que quer que tenhamos sido.
Não precisava de ti para sobreviver, eu já existia antes de te provar os lábios. Mas precisava de ti para escrever, para me entender. Secas-me as metáforas, sabes. Sinto que já nada há a dizer-te. As minhas palavras são tão redundantes quando a ti dirigidas. Mas foi tudo tão bonito. Todo o sentido de posse subtil, de vingança dissimulada.
Fomos grandes, gigantes. Não foi saudável, mas foi puro, foi real. Animal, até. Nunca nos vamos sentar e aproveitar um fim de tarde na companhia de um copo de vinho, embalados pela doce melodia das memórias. Não vamos falar um do outro aos nossos filhos um dia. Porque fomos proibidos, e a tentação custa o paraíso. Porque sou orgulhosa e narcisista no que toca a nós. Porque assim é melhor. Estamos melhor assim, não estamos? E porque o amor termina sempre em lágrimas e promessas quebradas, perdidas entre soluços e saudades, mata-nos. E eu mato-me aos poucos com ele.
Mas por ti, já não.
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