16.10.10

Viajante do tempo.

Time Travel from Deviantart
Éramos tão jovens os dois.
Sentámos-nos abraçados, e eu senti-te tão meu. Naquele lugar, para além da nossa presença, parecia existir apenas um olhar divino sobre aquele amor que algo transcendente teria feito questão de abençoar.
Agora que penso bem, conhecer-te não é a mesma coisa que saber quem és, e penso que apenas te conhecia. Mas eu gostava do que me era dado a conhecer, eu precisava do que me davas e a minha inocência e ingenuidade não me permitiram chegar a querer saber quem eras.
Contaste-me as mais bonitas histórias, fizeste uso das mais belas palavras e criaste em mim a ilusão de eternidade. Naquele dia não senti em mim qualquer vestígio de medo de não te voltar a ver quando me despedi de ti. Nunca fora sábia, mas sempre soube o suficiente para conhecer o significado de eternidade, e a minha confiança, essa, soubeste conquistá-la por inteiro.
Deste-me a mais bela tarde que já tive, proporcionaste-me os melhores momentos que já vivi. Tão melhores que me cheguei a questionar do que fizera para merecê-los, nada do que eu já tivesse feito me parecia suficientemente bom para justificá-lo.
Mas depois dessa tarde, tu não voltaste para mais nenhuma. Na altura as dúvidas assaltaram-me, a saudade perseguiu-me e a ignorância, de mão dada com a ausência de força, fizeram de mim aquilo que fui durante tanto tempo.
Durante muitas noites sonhei com o teu regresso, idealizei a tua chegada e pintei, para mim, os quadros de explicações que me poderias dar para essa tua súbita ausência, e tentei pintá-los sempre com a paleta de cores mais bonitas de forma a não se tornarem tão agressivas à vista como foram para o coração.
Muito me passou pela cabeça. Cheguei a pensar até que o problema fosse eu ou que tu não quisesses voltar a dar-me tanto de ti. Mas não precisavas de o fazer meu amor, bastava dizeres-mo, eu percebo que dar de nós também cansa.
Não é do meu interesse especificar quanto, mas posso dizer que o medo e o desgosto me deixaram entre mãos um coração partido durante demasiado tempo. Não há melhor cura que o esquecimento, e assumi mesmo que a capacidade de esquecer fosse um privilégio destinado àqueles que não amam com o coração.
O tempo foi passando e o desvanecimento da saudade acabou por dar lugar à melhor compreensão de factos.
Hoje percebo porque nunca mais regressaste. 
Tu és um viajante do tempo, o teu caminho foi construído sobre as estradas de pedra da vida, e o teu destino é percorrê-lo. Não te foi dada opção de escolha, nem tão pouco permissão para rejeitar.
E tu, tu não sabes querer parar, não sabes desejar algo diferente, algo melhor, e conformas-te com o destino que te foi dado, injustamente. E essa é a razão porque depois de mim aceitaste tão bem uma vida de solidão, recebeste-a de braços abertos, não deste luta.
És um viajante do tempo e sempre serás. E tal como o tempo, tu não voltas atrás.

4 comentários:

  1. Obrigado pelo elogio. :)
    Vou ler o teu texto e deixo comentário mais logo. Ok? Beijinho*

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  2. Claro, obrigada :)
    e de nada, beijinho.

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  3. Adorei, está espectacular. Nem eu escreveria melhor. :# Ele voltará atrás. :)

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  4. Dúvidas? Ora essa, porquê? Eu acho que está bem escrito. E acredito que um rapaz escrever como as raparigas escrevem - e muito bem - é um bocado difícil. :D

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