23.10.10

Para sempre, talvez

Friendship from Deviantart
Quando era mais nova, acreditava que as amizades eram eternas. Primeiro conheciam-se, encontravam pontos em comum, aproximavam-se, tornavam-se amigos, depois amigos inseparáveis, mais tarde melhores amigos e assim permaneciam. Para sempre. Era assim que as coisas funcionavam, pelo menos para mim, há anos atrás.
Hoje, não sei se foi a perda da inocência que "crescer" trouxe consigo ou se foi o facto de ter vivido a situação diversas vezes, sei que as coisas não são assim. Para sempre é demasiado tempo, e a culpa não é de ninguém. 
Amizades vão e vêm, como tudo na vida.
Quer queiramos quer não a distância afasta, o orgulho por vezes mete-se no caminho, os mal-entendidos acontecem, outras vezes as pessoas mudam, a ocupação diária e as responsabilidades crescentes tornam um "até logo" num "hoje não posso, fica para amanhã". Mas amanhã tarda a chegar, porque "amanhã" assume um significado diferente, e já não é "no dia seguinte" mas sim "quando der".
As chamadas telefónicas diminuem, as saudades aumentam mas a vida não abranda, o tempo não volta atrás e nem tão pouco pára, e por mais que desejássemos, ás vezes torna-se mesmo impossível fazer o que quer que seja em relação a isso.
As promessas, não digo que sejam esquecidas, mas ficam guardadas num cofre. Os desejos e sonhos em comum tomam o mesmo rumo, porque para já, "não dá", e a verdade é que vai continuar a não dar.
Mas admiti-lo magoa, e eu sei-o. Na verdade, muitas das vezes não se trata de fugir a isso, trata-se de uma tentativa de perseverança do que um dia já se foi, e evita-se esse assunto.
Então começa a faltar o tema de conversa, e o número de conversas torna-se mais escasso ainda. E por vezes há até a tendência de culpabilização mútua, seguida do arrependimento, ou talvez não, talvez se fique por algo mal resolvido. 
Segue-se aquela situação do "eu vou sempre amá-la/o e estamos sempre lá um para o outro".
E julgo que será aí que entra outro alguém na nossa vida. Alguém que precisa de nós, ou de quem nós precisamos, e começa tudo de novo. Pontos em comum, aproximação, inseparabilidade. Mas não é substituir ninguém, nunca será. Acho que é mais algo como tentar libertar os ombros do peso de não se conseguir ter alguém a tempo inteiro para nos ouvir e nos dar algo para ouvir também, então, afeiçoamos-nos a outra pessoa enquanto a vida o for permitindo. E os sonhos, as vontades e as memórias, continuam sempre fechados no cofre da saudade que é aberto quando finalmente surge oportunidade, quando "dá".
Eu sei que é assim que funciona, já passei por todas as situações. Mas mais uma vez não está nas minhas mãos, ou nas deles... Está nas mãos da vida, e essa, pouca ou nenhuma importância lhe dá.

2 comentários:

  1. Conseguiste descrever muito bem o ciclo que a amizade tem na nossa vida. Adoro a forma como escreves. Revala muita maturidade. Tens jeito Jessica :)

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