18.5.14

#69

Há palavras que são para a alma o que uma bala é para o corpo, e há palavras que são quentes, doces e nos fazem bem, como mel. Há pessoas que nos doem. São como armas: têm ar sob pressão nos pulmões e um gatilho na garganta, e estão carregadas. A pólvora destila-se-lhes da língua e crava-se nos na carne. 
E há pessoas que nos curam. Que nos recebem de braços abertos e nos cedem um quarto a um canto do coração e não cobram renda. Há pessoas que merecem o universo, mas ele é tão grande que não lhes cabe nas mãos, e por isso damos-lhos aos bocadinhos e sentamos-nos em silêncio a vê-las achar que não o merecem, porque não sabem o valor que têm. Há pessoas assim, e tê-las, tê-las é carregar na palma da mão a cura para os dias difíceis e o monopólio da ternura.

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