15.11.11

L4

Image from Tumblr
Manhã. Acordo e deito um olhar preguiçoso e melancólico pela pequena janela do quarto, na esperança de me deparar com uma manhã de Inverno não tão invernosa. Está a chover. É este o clima nada familiar dos Países Baixos. Apetece-me ficar na cama, o único sítio em que ainda te sinto. O teu perfume ainda passeia pelas irregularidades dos meus lençóis que não vêm um ferro de engomar há meses. Tinhas razão Lez, há uma grande diferença entre viver sozinho e viver na  casa dos meus pais. 
A noite passada, enquanto me tentava focar nas aparentemente infinitas páginas de trabalho por fazer, tive a sensação de ouvir a Senhora Frantzen falar com o marido sobre estradas cortadas devido ao último nevão. É possível, de facto na última semana senti significativamente a queda da temperatura. As noites são frias agora, mas eu não me quero desfazer dos lençóis de verão, tenho receio de que, se o fizer, acabe por perder a sensação de ainda te ter cá por casa. Começo, ligeiramente, a sentir saudades.

Vou para o trabalho. Passo pela rua onde estive contigo no Verão passado. Estavas linda Lez, parecias uma menina, a fugir de mim, a rir o tempo todo. As cores do teu vestido eram quase tão leves como o tecido de que era feito, e esvoaçava com a brisa amena. Os teus olhos sorriam, ou se calhar era eu que tinha essa sensação, e o teu cabelo tinha um cheiro doce e parecia ouro ao mais leve toque luminoso. Agora essa rua está vazia, escura e fria, os canteiros estão mortos e chove torrencialmente em cada esquina. Recorda-me o meu estado. As saudades começam a fazer-se sentir com mais intensidade.

Chego ao trabalho. Na secretária ainda tenho um post-it que me deixaste a dizer "deixei o carregador na primeira gaveta, és incrivelmente desorganizado". Está mesmo junto à papelada do dia. Acho que ainda não te disse, mas passei a guardar o carregador sempre na primeira gaveta. Ao lado do computador tenho uma fotografia nossa, tirada naquele jantar de família em tua casa quando as nossas mães deixaram queimar o jantar porque o Tommy andava desaparecido e acabámos por passar a consoada a comer comida chinesa do restaurante do outro lado da rua. Pelo menos o Tommy estava bem, tinha ido apenas atrás de um gato. Esta proposta de trabalho já não me parece tão aliciante como parecia. Saudades, saudades, saudades.

Hora de almoço. Sento-me sempre na mesa pequena, ao fundo do restaurante onde almoçámos na tua última visita. Lembro-me que a adoras-te porque tinha uma vista incrível, e até sei porque te foi tão familiar embora tu não tivesses dito nada. A mim também me recordou a vista pacata do restaurante do Senhor Manuel. Volto para o trabalho. Nesta altura, as saudades já são tantas que algo em mim parece começar a doer.

Chego a casa. Já está escuro e meto as chaves na fechadura do meu minúsculo e desorganizado T1. Tenho a sensação que ainda te oiço a citar a tua passagem favorita daquele livro que te ofereci. Esse livro ainda se encontra ali na estante, tal como a tua caneca se encontra no armário da cozinha. 
Só tu é que já cá não estás Lez. E és só tu quem cá faz falta.

Liam Thompsom
15.11.2011


Sem comentários:

Enviar um comentário