20.2.11

L3

- Um dia, quando formos velhinhos e o que restar do teu cabelo for uma amostra branca e quebradiça já usada pelo tempo, que não cobrirá mais do que dois terços da tua cabeça, nessa altura, cansada e já pesada para o corpo que a sustentará, as tuas hoje vigorosas costas encontrar-se-ão curvadas devido ao peso que a vida se encarregará de encostar a ti, as tuas pernas não serão tão fortes, na tua cara estará marcada a passagem dos anos e as tuas mãos poderão estar trémulas até, e enrugadas, e quem sabe se necessitarás até de uma bengala que te ajude a manter de pé quando as dores próprias da idade se manifestarem e tornarem os teus movimentos mais lentos, dolorosos e difíceis. Quando esse dia chegar, eu espero honestamente estar na mesma situação e lugar que tu. E ainda que possa ser-nos impossível correr pelos campos e alcançar os céus como hoje, é assim, desta forma, que eu nos vou recordar. Jovens, livres e eternos, apaixonadamente abraçados no calor de dois corpos suados de amor e desejo, numa melancólica e silenciosamente fria tarde de Inverno.

Leslie nunca se esquecera destas palavras que lhe soaram sempre a uma promessa, a um "para sempre". E agora, trancada no seu quarto acompanhada apenas pelo som do vento lá fora, com um peso tremendo no peito que parecia asfixiá-la, recordava-se de ouvir um dia alguém dizer que não existia amor como o primeiro. Talvez fosse verdade. 
Mas na situação em que se encontrava, Leslie precisava de acreditar que, algures, existia melhor.


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