15.1.11

L1


Lovers from Weheartit
Ainda que tivesse já passado todo aquele tempo, Leslie não aprendera como não recordar aquele adeus que aconteceu sem nunca ser pronunciado, aquela discussão ridícula que os tinha separado e assim os mantinha.
- És tu quem está a desistir.
- És tu quem não me está a tentar impedir sequer.

E fora então que partira. Olhando para trás agora, dava-lhe a sensação que quem quer que tivesse presenciado a dita partida tê-la-ia considerado digna de um desses filmes pirosos que esgotam bilheteiras e arrecadam grammys. A diferença encontrava-se apenas no final: nesses filmes, após uma discussão, é seguro aguardar um final feliz, há sempre alguém que dá o braço a torcer quando as saudades apertam. Cliché. Mas cliché não tem necessariamente que ter uma conotação negativa. De facto, Leslie desejava que de vez em quando a própria vida permitisse clichés do género. Todavia, era demasiado orgulhosa para ser ela quem dá o braço a torcer, preferia esperar que Liam o fizesse. Uma chamada telefónica, uma visita lá a casa, qualquer coisa, mas que fosse ele a fazê-lo.
Mas se bem o conhecia, Liam já o teria feito se sentisse um ligeiro vestígio que fosse de saudades suas.
E aí as dúvidas assaltaram-na. Não sentiria ele saudades dos momentos que passaram juntos? De a ouvir dizer o quanto se sentia bem na sua companhia? Não sentiria ele saudades até das discussões de dez minutos sem pés nem cabeça que tinham frequentemente?
Porque a ela a saudade consumia-a. Tinha-se tornado numa espécie de alvo de perseguição para o fantasma das memórias, toda aquela espera e expectativa tornavam-se cansativas, desgastantes... e a dor, essa, fazia já parte daquele corpo há tanto tempo que já se tornava difícil notá-la ou distingui-la do resto do ser.
Sentiu então uma enorme vontade de pegar no telefone e ligar-lhe. Ouvir a voz dele, ouvi-lo dizer o seu nome outra vez, ouvi-lo rir. Mas não o fez.
Maldito orgulho. Seria responsabilidade sua o estado actual daquela coisa parecida com uma relação que existia entre ambos? Teria sido mesmo ela a ditar aquele fim precoce? Não. Claro que não. Leslie estava fora de si quando naquela tarde decidira virar-lhe as costas, não o fez conscientemente. Deveria ter sido ele, Liam, a evitar que ela o tivesse feito, devia tê-la chamado, devia tê-la agarrado ou pedido desculpa. Afinal, ela estava demasiado alterada para permanecer ali, para ouvir mais uma palavra que fosse que pudesse piorar ainda mais aquela situação. Leslie tinha que sair dali. Tinha esse direito.
Liam é que não tinha cumprido o seu dever ao deixá-la partir. Ele é que devia tê-la impedido de desfrutar desse direito tão seu. 
Ou pelo menos, era disso que Leslie se tentava convencer todos os dias.


(ainda não descobri se este excerto me agrada ou não, mas estou a pensar seriamente em dar continuidade
 à história destas duas personagens que criei há tempos atrás...)

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