26.8.10

Permanência (in)desejada

Sempre considerei que a única razão que levava os apaixonados a se afastarem no presente seria o seu reencontro no futuro; toda a vida me foi dito que desistir era para os fracos e que amar era, por certo, um acto de coragem destinado apenas àqueles cuja ousadia permite viver tal veleidade.
Nunca me assumira como uma pessoa corajosa, nem apta a amar sequer, até ao dia em que entraste na minha vida. Ficou claro para mim desde o início que não vinhas só de passagem, vinhas para ficar independentemente das circunstâncias.
Não me lembro de alguma vez to ter permitido, mas mudaste-te para o meu dia-a-dia de malas e bagagens, e sei apenas que não me opus a isso, não ofereci qualquer tipo de resistência ou condição à tua chegada, e não me importando sequer com a efémera duração que poderia ter a tua estadia, ofereci-te um lugar seguro no meu presente na esperança que o conservasses à espera de um futuro, e meti tudo nas tuas mãos.
Mas essas vinham já muito carregadas com as ditas malas e bagagens que contigo trazias e que desde sempre te haviam acompanhado, aquelas que serviam de cofre aos teus segredos e tão bem protegiam o teu ser.
Eras dono de uma grande personalidade e carisma sempre fora uma característica tua, não deixavas no entanto de ser alguém reservado.
Um dia atrevi-me a dar-te um bocadinho mais de mim e senti que conquistara a tua confiança, pois retribuíste o gesto e deste-me a conhecer o que tão bem guardavas dentro de uma das tuas malas. Nunca considerara tal possibilidade, mas carregaras sempre contigo a força de vontade, a alegria, o amor, a serenidade, a esperança e sensação de imunidade de que eu sempre precisara.
A outra mala deixaste-a fechada e eu não dei a mínima importância a isso, sentia-me demasiado feliz para tal.
O que eu não podia sequer supor na minha inocência era que tu, lado a lado com a minha felicidade, carregavas a minha desgraça, e por isso naquele dia deixaste ficar trancadas a cadeado na maldita mala, longe dos olhares do mundo, a saudade, a dor e as lágrimas que esperavam apenas pelo momento certo para se apresentarem a mim como armas fatais para um futuro promissor. Foram essas que, assim que houve oportunidade, apartaram de mim tudo aquilo que, segundo tu me fizeste crer, me pertencia por direito.
E hoje, continuam a ser essas que após essa tua derradeira partida, sem oportunidade para um mero último adeus, se tornaram minhas companheiras a tempo inteiro, e me relembram constantemente que a tua entrada na minha vida não foi algo que nenhum de nós pudesse controlar, mas no meu coração fui eu que te deixei entrar, independentemente da minha vontade de querer acreditar no contrário.
Agora quero que saias e libertes esse espaço para um outro viajante á deriva que traga consigo uma bagagem mais leve do que a tua e anseie por me fazer feliz, mas tu sempre tão opulento e prevalente, pareces ter encontrado um bocadinho só teu onde te sentes seguro e confortável, e fazes questão de permanecer.

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